terça-feira, 19 de agosto de 2008

A invasão da Geórgia - "Expresso" - 16 de Agosto

Há uns anos, quando da invasão do Iraque por tropas anglo-americanas, houve uma célebre reunião em Kaliningrad dos senhores Putin, Schroeder e Chirac. Aí juntaram as suas vozes para denunciar a arrogância da "superpotência norte-americana" e apelar a um mundo multipolar. Dizem as más línguas que foi também em Kaliningrad que Putin terá convidado o então chanceler alemão para dirigir a empresa de energia russa - a mesma que decidiu construir um canal de energia através do Báltico, para isolar a Polónia.
Agora, com a descarada invasão da Geórgia pela Rússia, com total desprezo pela lei e comunidade internacionais, temos uma antevisão desse maravilhoso mundo multipolar com que sonhavam Schroeder, Chirac e Putin, para não citar os seus intérpretes noutras paragens. Onde estão agora as vozes que se indignaram contra o derrube do ditador iraquiano que violara 12 resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas?
Não se trata de reabrir a discussão, aliás inteiramente legítima, sobre a intervenção no Iraque. Trata-se apenas de recordar algumas verdades perenes da cena internacional. O Ocidente cometeu certamente muitos erros e podemos discordar de muitas das suas políticas. Mas o Ocidente é a sede da democracia e do primado da lei. Quando esta sede é enfraquecida, a ordem multipolar que emerge não é mais democrática e mais respeitadora da lei. É simplesmente mais bárbara.
É isto que deve ser recordado quando presenciamos a invasão da Geórgia. E quando podemos ainda prevenir o que virá depois. A invasão culmina uma série de acções provocatórias por parte de Moscovo, que estabelecem um padrão: o corte de energia à Ucrânia, Bielorrússia, Geórgia e até à Lituânia (que é membro da NATO); o chamado ciberassalto à Estónia; a campanha contra o inofensivo escudo antimíssil na Polónia e na República Checa. Agora, a invasão da Geórgia serve o óbvio propósito de controlar o único canal de energia para a Europa que escapa ao monopólio russo, o oleoduto que liga o Azerbaijão à Turquia através da Geórgia.
Depois da Geórgia, onde vai parar a Rússia? Vai reclamar o seu direito de intervir nas Repúblicas Bálticas, onde existem significativas minorias russas? Que fará na Ucrânia, onde a etnia russa é tão significativa? Vai exigir um corredor por terra até Kaliningrad, através da Lituânia?
O Ocidente deu repetidamente sinais de boa vontade para com a Rússia na última década: convidou-a para o G8, onde o seu estatuto económico deixa muito a desejar; fechou os olhos à barbárie na Tchetchénia; aceitou a concentração ilegal de tropas no Cáucaso. Se o Ocidente não sinalizar agora que a Rússia tem um preço a pagar pelo seu comportamento na Geórgia, mais tarde vai ser ainda pior.

1 comentário:

Anónimo disse...

Desculpem lá mas esta sim é a minha "guerra" !


Tirem a Venda da Justiça

Por Mário Crespo

O infinito disparate do tribunal de Loures de tratar da mesma maneira o
militar da GNR que tentava deter um grupo de assaltantes e os próprios
assaltantes ilustra o maior problema de Portugal nesta fase da sua vida democrática.
Se juízes e procuradores em Loures não conseguem distinguir entre crime e ordem mantendo as suas
decisões num limbo palavroso de incoerências politicamente
correctas e medos de existir, nada nos defende da desordem.A disléxica
significância actual do estatuto de 'arguido' que permite na mesma
penada dar rótulos idênticos a criminosos e agentes da ordem pública é um absurdo em qualquer
norma civilizada.
Esta justiça, ou ausência dela, faz de Portugal um país perigoso para se viver em 2008. O militar da GNR
chamado para restabelecer a ordem e o 'pai' foragido da prisão que
levou o filho num assalto não podem ser tratados da mesma maneira por
uma justiça que meramente cumpre rituais de burocracia. A cegueira
da crise na justiça está a originar que a mensagem pública que surge
destas decisões agudize a sensação de insegurança e fragilize a
capacidade do Estado de manter a ordem pública.
Chegou a altura de retirar a venda da justiça em Portugal para ela ver para onde está a levar o país,
aplicada como tem sido num sinistro cocktail de sabores do PREC,
heranças do totalitarismo,
inseguranças políticas,
ambiguidades e ignorâncias cobertas por mantos diáfanos de
academia-faz-de-conta.
Nesta rapsódia de dissonâncias que é a interpretação apriorística e receosa de normas mal definidas,
mantém-se sem conclusão o julgamento da Casa Pia que nestes
anos todos perdeu qualquer hipótese de juízo sério. Não se consegue
entregar Esmeralda a quem lhe garanta a infância normal a que tem
direito porque Esmeralda teve o azar de nascer num país onde o Direito não é normal.
Caímos no ridículo internacional com a instrução desastrada e
provinciana do caso McCann onde tudo falhou. Da letra da lei, à sua
interpretação, à sua aplicação. E agora em Loures diz-se ao país que é a mesma coisa tentar manter a
ordem em condições extremas e levar um filho num assalto depois de se
ter fugido da prisão. É tudo arguido com a mesma medida de
coação.
O que a Judicatura e a Procuradoria de Loures mostraram ao País não foi que a justiça é cega.
Foi a cegueira da justiça em Portugal. Disseram que é a mesma coisa ser-se um cidadão militar agente da lei e um foragido apanhado em flagrante, armado com
calibres letais e disfarçado com identidades falseadas.
A continuar assim teremos que bramir armas em público como os mais fundamentalistas intérpretes
da Constituição americana dizem que podem. E temos que ir dormir a condomínios privados porque a cidade e as zonas rurais estão a saque dos grupos que nomadizam armados à espera de uma aberta, e nós teremos que nos defender.
Precisamos de procuradores capazes, juízes justos e de um ministro da
Justiça que consiga administrar os meios do Estado. Obviamente não os temos no actual quadro do funcionalismo público. Por favor subcontratem.
Estrangeiros mesmo, que os há muito bons, porque a coisa aqui está preta.